A Estranha

Eu estou há 4 dias sem dormir. Um verdadeiro zumbi: ando me arrastando até a escola e passo a aula com aquela cara de idiota que o morto-vivo tem. Enquanto ele só pensa em cérebro, eu só penso em cama. Não sei se vou aguentar passar por isso todo mês… sorte que as férias já vão começar. 😰

Tudo começou na semana passada, bem no meio das provas finais.

Na quinta-feira, eu estava feliz e tranquilo curtindo de café da manhã a minha torrada com geleia quando escutei um berro horroroso.

Parecia um cabrito com dor de barriga, mas era só a Pestinha gritando do banheiro:

– Manhêêêêêêê!!!! Manhêêê!!

Assim que os nossos tímpanos foram estourados, minha mãe largou a caneca de café e subiu as escadas correndo mais rápido que o Bolt.

Mastiguei aquele pedaço de pão seco junto com a curiosidade.

Dez minutos depois, minha mãe voltou com um sorrisinho no rosto, virou pra Chica que estava limpando a geladeira ao mesmo tempo em que chupava meia laranja para “aliviar as tripas” e falou:

– Tá tudo bem, não foi nada grave. Ela “virou mocinha” – e saiu para buscar uma toalha.

Levei uns trinta segundos para entender o que era o tal de “virar mocinha”. Quando me toquei, quase caí da cadeira.

– Mas jáááá? Pestinha só tem 11 anos!

– É culpa dos “efes” – disse a Chica enquanto passava o perfex na gaveta de legumes.

– Quê? Que “efes”?

– É, ué… do frango cheio “dozormônio” e do Fûnque. – Sorriu, mostrando os fiapos de laranja presos nos dentes. – Quando eu era nova, nós ouvia Wando e Agnaldo Timóteo e as menina tinha regra só com 14 anos.

Precisei consultar no Google o dialeto da Chica: “Tinha regra” é a forma jurássica de dizer exatamente o que você tá pensando.

Fiquei sem resposta.

Pensando bem, a Chica pode estar certa, mas como era um assunto profundo demais e que não me interessava, levantei da mesa e fui buscar meu material para ir à escola.

E aí, a coisa toda me atingiu como uma tijolada na cabeça : lembrei daquele livro que o Felipe me contou, em que a menina “tinha regra” e matava geral do colégio com o poder da mente. ☠️☠️

Era tipo o lado negro da Força, só que hiper-master-ultra potente no modo assassino, por causa de um absorvente.

Se “virar mocinha” conferisse um poder desses, os homens da Terra seriam rapidamente extintos. Meu pai e eu não estaríamos mais aqui pra largar toalha molhada no banheiro e louça suja na pia ou simplesmente coexistir na mesma casa, mas graças a Deus a história que o Felipe me contou era só mais uma de terror. Pura ficção, né? 🤔

Bem, essa ilusão durou poucos minutos e acabou quando me lembrei da origem da Pestinha.

Segundo as lendas, a marca da Besta, a personalidade demoníaca do Anticristo se manifesta mais fortemente depois que a criatura chega na puberdade. Pra piorar eu fui totalmente pego de surpresa: sem água benta, sem decorar frases em latim, e há algum tempo sem maratonar Supernatural (culpa das aulas do 8° ano).

Então, pra me proteger há 4 dias que estou revendo todas as temporadas dos irmãos Winchester e passo a noite acordado de olho na maçaneta da porta.

Sem chances da Pestinha destrancar a porta e me matar. Guardei a chave na cueca. 😬😂

P.S. É gente, eu tava sumido. Precisei utilizar toda a minha capacidade cerebral pra sobreviver e passar no 8° ano. Se alguém aí souber pra que servem as equações de 1° grau na vida, me avise.

4 comentários sobre “A Estranha

Deixe um comentário